quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Barriga desfigurada em lipoaspiração gera processo criminal contra médico

A assistente administrativo M.D.C., 45 anos, teve a barriga desfigurada após realizar procedimento de lipoaspiração e abdominoplastia - constituição do abdome - em 2008. Só no ano passado ela tomou a atitude de registrar boletim de ocorrência na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), porque ainda acreditava em sua recuperação. A Polícia Civil indiciou o cirurgião plástico por lesão corporal culposa (sem intenção) e o caso foi parar na Justiça, o primeiro na área de estética no município, conforme a delegacia.

M. espera providências da Justiça, mas também quer alertar, sobretudo as mulheres, sobre o preço que se pode pagar pelo excesso de vaidade. Ela pondera que a possibilidade de erro médico nessa área não é regra. “Sabemos que todo tipo de cirurgia oferece riscos, inclusive os de estética. No entanto, segui todo o protocolo, obedeci todas as exigências pré e pós-cirúrgicas e olha o que aconteceu comigo”.

M. conta que queria perder a gordura localizada na barriga e que, três meses antes da cirurgia, parou de fumar, como o médico orientou. Segundo ela, estava tudo bem, passou pelo procedimento na clínica do cirurgião, mas percebeu uma mancha preta ao lado do umbigo. Na semana seguinte, no retorno para a retirada do dreno, ela percebeu que algo estava errado porque o local da cirurgia expelia muito mau cheiro. “A assistente me garantiu que era normal, que uma limpeza resolvia. O médico fez, na verdade, uma raspagem, tirou ainda mais carne do local. Cabia minha mão fechada no buraco que ficou. Ele me dizia que em três meses minha barriga ficaria linda. Quase dois anos depois, ela está desfigurada e uma outra especialista que procurei disse que, numa escala de risco de 0 a 10, minha situação era 9. Se chegasse no 10, poderia ter morrido pelas complicações que poderiam ocorrer”, conta.

Meses se passaram e M. relata que chegou a usar fralda geriátrica no local da cirurgia. Para ela, ainda haveria solução. “Não há nada pior que ver meu filho, marido e familiares chorando, com medo que eu morresse, até pelos casos que a mídia sempre mostra”. Ontem, outro caso de óbito foi divulgado. A jornalista Lanusse Martins, de 27 anos, morreu anteontem em uma clínica particular, em Brasília, após uma cirurgia de lipoaspiração. Ela era repórter na TV Justiça e em 2009 também trabalhou na TV Globo de Brasília. A jornalista teria desenvolvido embolia pulmonar após a cirurgia.

SITUAÇÃO

O MP ainda apura as circunstâncias do caso da limeirense, ouve testemunhas e colhe provas para formular a denúncia (acusação formal). De acordo com o advogado da mulher, Daniel Simonetti, a juíza da 3ª Vara Criminal, Daniela Mie Muata Barrichello, aguarda a vinda dos autos do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), onde a DDM também encaminhou cópia do processo. O conselho apura somente a prática médica, mesmo assim, aguarda-se sua posição para o andamento do processo.

PREJUÍZOS

Para a limeirense, o pior prejuízo não foram os R$ 7,6 mil que pagou à vista para a cirurgia, mas o emocional. “Essa é a mais cruel cicatriz. Quero que as pessoas saibam dos riscos a que se submetem e que, caso estejam decididas a passar por cirurgia estética, pesquisem sobre o profissional e busquem informações junto ao CRM”, aconselha.

Último levantamento do Cremesp aponta que 97% dos médicos que respondem a processos ético-profissionais no órgão, relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, não possuem título de especialista na área.

O título de especialista, que não é obrigatório por lei para o exercício da medicina, pode ser obtido após a conclusão de residência médica reconhecida pelo Ministério da Educação ou por meio de concurso de título de uma sociedade da especialidade médica, oficialmente reconhecida. “O direito legal de atuar sem título de especialista não exime de culpa o profissional que pratica atos médicos para os quais não está habilitado do ponto de vista técnico e científico”, diz o CRM. O Código de Ética Médica exige que o profissional só atue na área que domine e prevê punição a atos caracterizados como negligência, imperícia e imprudência.

O órgão ainda destaca que a lipoaspiração é o procedimento médico que mais aparece nos processos ético-profissionais analisados, seguido da colocação de prótese de silicone. O telefone da delegacia do CRM em Limeira é o 3495-2505. Para denúncias, é preciso se identificar. O órgão apenas investiga a atuação médica. O site www.cremesp.org.br possui um campo em que se pode constatar o cadastro do médico no órgão.

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